Hoje iremos tratar dos principais indicadores da Análise Fundamentalista (AF), mostrando exemplos práticos de como interpretá-los e achar boas oportunidades de investimento; e no próximo post, irei expandir estes indicadores mostrando ao investidor como identificar empresas em situação financeiras complicadas, onde o investimento possui caráter de maior volatilidade e risco, por conta do fator especulativo do ativo. Vale lembrar que a ideia aqui é mostrar ferramentas práticas e de fácil utilização, que sirvam para agregar valor aos métodos utilizados pelos investidores.

Lembrando que seus estudos podem ser realizados através da nossa Plataforma de Análise Fundamentalista.

Principais indicadores:

P/L – Preço sobre Lucro – Como calcular? Cotação da ação dividido sobre o Lucro Líquido por ação. Para calcular este primeiro temos que descobrir o Lucro Líquido por ação (LPA) com uma conta simples. LPA = Lucro Líquido anual dividido pelo número de ações da empresa. Depois de calculado o LPA, só temos que dividir a cotação da ação pelo LPA para, então, chegarmos ao P/L.

Mas, o que representa o P/L? Representa o número de anos que o investidor levaria para recuperar um investimento. Ou seja, uma empresa que apresenta um P/L de 12, significa que em 12 anos você recuperaria todo o seu capital investido, caso o lucro anual da empresa se mantiver estável.

Como usar o P/L? Basicamente, quanto menor o P/L melhor, pois isto significa um menor tempo para ter o retorno deste investimento. Lembrando que quando deparar com um P/L negativo, significa que a empresa está apresentando prejuízos anuais. É sempre importante comparar o P/L das outras empresas do mesmo setor, para se ter uma idéia de qual seria a média setorial, e se a empresa escolhida está acima ou abaixo desta média.

P/VP – Preço sobre Valor Patrimonial – Como calcular? Cotação da ação dividido pelo Valor Patrimonial por ação. Para calcular este primeiro temos que descobrir o Valor Patrimonial por ação (VPA) com uma conta simples. VPA = Patrimônio Líquido dividido pelo número de ações da empresa. Depois de descoberto o VPA, só temos que dividir a cotação da ação pelo VPA para chegarmos ao P/VP.

Mas, o que representa o P/VP? Informa o quanto o mercado está pagando pelo valor do patrimônio da empresa. Em outras palavras, uma empresa que tenha um P/VP de 2, informa que o mercado está pagando 2x o valor do patrimônio desta empresa.

Como usar o P/VP? Basicamente, quanto menor o P/VP melhor, pois isto significa que a empresa está mais barata. Um P/VP menor que 1 diz que o mercado está pagando menos do que vale o valor do patrimônio da empresa. Aqui vale uma observação: este indicador isoladamente não significa nada, porém se o analisarmos junto com o próximo indicador, ele se torna de extrema utilidade.

ROE – Retorno sobre o Patrimônio Líquido – Como calcular? Lucro Líquido dividido pelo Patrimônio Líquido, colocado em porcentagem. Também é conhecido como RPL.

Mas, o que representa o ROE? Informa a rentabilidade que aquele Patrimônio Líquido da empresa está gerando. Um ROE de 20% significa que a empresa esta gerando um retorno sobre aquele patrimônio de 20% para o acionista. Como usar o ROE? Basicamente, quanto maior o ROE melhor, pois isto significa que a empresa está gerando um maior retorno. Como chamei a atenção no indicador anterior, temos que olhar este indicador em conjunto com o P/VP. Isto porque o P/VP nos diz se o mercado esta pagando caro ou barato pelo patrimônio da empresa, e o ROE, por sua vez, nos diz se este patrimônio esta gerando um bom retorno. Senão de que adiantaria investir em uma empresa que possui um P/VP barato, mas que apresenta um ROE baixo? Como diria Warren Buffett: eu prefiro pagar um preço razoável por uma empresa boa, do que um preço baixo por uma empresa razoável. Logo o ideal é maximizar este fórmula, procurando investir em empresas com baixo P/VP e alto ROE.

Vamos aos exemplos práticos:
CMIG4 (Cemig) – dados dos últimos 12 meses, temos os seguintes números:

  • P/L: 15,9
  • P/VP: 0,78
  • ROE: 4,9%

CEMIG

Olhando rapidamente outras empresas do setor, vemos que o P/L da empresa, embora esteja um pouco elevado, está dentro da média do setor elétrico. Some a isso que geralmente, empresas estatais, assim como pequenas empresas (small caps), possuem P/L menores, devido ao desconto que o mercado tem aplicado a estes, pelo maior “risco”. Comparando com outra empresa do mesmo setor, EQTL3, o P/L desta está em 14,5 só um pouco abaixo com relação a CMIG4. Pois bem! Já vimos que o P/L não está muito atrativo, mas dentro do setor está na média, continuemos agora com os outros dois indicadores.

O P/VP está abaixo de 1,00, isto significa que a empresa está barata. Porém, olhando o ROE percebemo a razão disto: empresa com um baixo ROE (4,9%) está dando um baixo retorno ao acionista, menor do que a poupança (8,3%). Comparando com outra empresa do setor novamente, a EQTL3, temos nesta o P/VP de 2,2, bem acima comparando com CMIG4, mas o ROE muito mais elevado, de 15,8%. Aqui, vale aquela frase do Buffett que postei. Vamos olhar agora outra empresa do mesmo setor, em específico uma small cap.

ALUP11 (Alupar) – dados dos últimos 12 meses, temos os seguintes números:

  • P/L: 5,9
  • P/VP: 0,84
  • ROE: 14,6%

Alupar

Comparando com CMIG4, vemos que os indicadores de ALUP11 estão bem mais atrativos. Alupar mesmo tendo um P/VP maior do que Cemig, está com um ROE muito superior, e um P/L muito inferior. Em outras palavras, Alupar está um pouco mais cara, mas esta dando um retorno ao acionista muito superior, além de um menor prazo para retorno do investimento. Neste caso, podemos dizer que estamos pagando um preço razoável por uma empresa boa. Lembrando que estamos avaliando números que representam o histórico da empresa. É preciso também levar em conta perspectivas futuras (mais a frente na série falarei sobre este assunto).

Uma observação de extrema valia para os investidores. Existem muitas empresas que possuem os seus indicadores inflados, ou seja, eventos não operacionais que aumentaram em muito o lucro líquido da empresa, distorcendo os indicadores (por exemplo, uma siderúrgica que vendeu um terreno gerando um grande aumento no lucro líquido, porém esta venda foi um resultado não operacional, pois não é da natureza da empresa). Mas, há uma forma de identificar isto rapidamente. Compare o valor do EBIT com o valor do Lucro líquido. O EBIT representa basicamente o lucro operacional da empresa, antes de impostos e juros. Logo, se tivermos uma empresa com o Lucro Líquido muito superior ao EBIT, já podemos desconfiar que os indicadores estão distorcidos.

Um exemplo: SLED4 (Saraiva) . Olhando o balanço anual de 2015, temos um P/L de 0,9, um P/VP de 0,2 e um ROE de 22%. Seria a empresa mais atrativa da bolsa. Porém, vejam como os números estão inflados: EBIT = – 100 milhões e Lucro Líquido = 94 milhões. Ou seja, a empresa apresentou um prejuízo operacional de 100M, mas terminou com um lucro líquido de 94M (boa parte por conta da venda de uma parcela de seu negócio por 238M). Ainda não vou entrar em muitos detalhes sobre o assunto, mas o investidor checando sempre estes dois números, já vai terá uma boa ideia se os indicadores estão inflados ou não, e com isso fazer uma análise fiel dos números, evitando que distorções nos indicadores o enganem.Saraiva

Chamo a atenção para a necessidade de sempre usar, pelo menos, estes três indicadores em conjunto, nunca isoladamente. Além disso, sempre os compare com indicadores de outras empresas do mesmo setor. São indicadores básicos, mas de grande utilidade, cuja evolução deve ser acompanhada a cada trimestre através de uma planilha. Na segunda parte deste estudo, apresentarei mais alguns indicadores que também podem ser usados como parâmetro de atratividade, mas vou mostrá-los para identificarmos empresas em dificuldades financeiras.

Aproveite agora e leia a segunda parte desta série: Principais Indicadores Análise Fundamentalista – Parte 2

Até a próxima!

 

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