Neste artigo, iremos falar sobre duas estratégias envolvendo a análise fundamentalista e sobre um dos principais indicadores: os dividendos.

O que são e como funcionam os dividendos? Dividendos são a parte do lucro da empresa que é distribuída para os acionistas e que é isenta de imposto de renda. Para receber os dividendos, basta que esteja comprado no último dia COM. Esta é a data que a empresa divulga que os detentores da ação neste dia receberão este direito, proporcionalmente ao numero de ações possuídas nesta data. No dia seguinte, a empresa abre EX dividendos, sofrendo um ajuste na cotação sobre o valor distribuído.

Mas o que realmente interessa na estratégia para o investidor de Longo Prazo? É o indicador chamado DY (dividend yield), e o poder de se reinvestir dividendos no longo prazo.

DY representa o quanto em porcentagem você recebeu de dividendos no ano, sobre a cotação da ação. Por exemplo, uma empresa com um DY de 8%, significa que no período de 1 ano esta empresa deu de retorno em dividendos de 8% do valor da cotação no ano. Este é um ótimo retorno, lembrando novamente que os dividendos são isentos de imposto de renda. Geralmente, o mínimo que as empresas distribuem para os acionistas em forma de proventos são 25% do lucro líquido. Porém, existem empresas que chegam a distribuir até 100% do lucro. E quanto maior a distribuição do lucro sobre a cotação, maior o DY.

Como se calcula o DY de uma empresa? A conta é assim: DY = DPA / Cotação da empresa. DPA significa dividendos por ação. Para calculá-lo basta dividir o valor de dividendos pago no ano, pelo numero de ações da empresa.

Exemplo de conta de DY – VIVT4 no ano de 2015:
Dividendos pagos no ano (uma parte como JCP): R$ 2.015.925M
Numero de ações: 1.690.985M
DPA = 2.015.925 / 1.690.985 = 1,19
Cotação na época: 37
DY = 1,19 / 37 = 0,03216, que multiplicando por 100 para colocar em porcentagem temos um DY no ano de 2015 de 3,22%.

O poder de reinvestir dividendos no LP

Toda vez que se receber dividendos em sua conta e o reinvestir no mercado, ao surgir uma alta na cotação a sua rentabilidade aumentará em uma maior proporção, graças aos juros compostos. Pois se antes você tinha R$ 1.000,00 investidos na empresa, e ao receber R$ 120,00 em dividendos decidiu reaplicar na empresa, o seu saldo ficou agora em R$ 1.120,00 investidos. Com isso o seu ganho de capital após uma alta na cotação será alavancado, incidindo agora sobre 1.120,00. Logo, para quem opera no LP, reinvestir dividendos é uma poderosa arma para aumento de capital.

Vamos a um exemplo: BBAS3
No período de 2009 até 2014, as ações da BBAS3 valorizaram 78%. Nada mal, porém se levarmos em conta o reinvestimento dos dividendos pagos neste período, a rentabilidade saltará para 164%. Nota-se a grande diferença de ganho acrescentando o reinvestimento dos dividendos. Por isso, na montagem de sua estratégia é muito importante ter pelo menos uma parcela de sua carteira com ações que pagam bons dividendos, e que além disso possuem alto potencial de valor.

Existem empresas que se enquadram em mais de um tipo de estratégia diferente. Isto é muito bom para o investidor, pois a grosso modo, é o mesmo que ir a um supermercado e comprar um produto onde você paga por um e leva dois! E uma ótima forma de diminuir os seus riscos é analisar se a empresa que você vai investir se enquadra em mais de um tipo de estratégia diferente.

Vejam mais exemplos:

  • dividendos + valor: TAEE11 – Empresa possui múltiplos atrativos, P/L de 7,8, P/VP de 1,6 e ROE de 22%. Além disso, em 2015, teve um DY elevado de 13%. Como a empresa distribui quase que 100% do lucro, os dividendos foram muito altos.
  • crescimento + valor: FIBR3 – Empresa possui múltiplos superiores aos seus pares no setor, com P/L de 6,3, P/VP de 0,9, e ROE de 15%. Nos últimos três anos, a empresa duplicou a sua receita líquida. Cabe aqui ressaltar que a empresa possui um resultado final (lucro líquido) volátil, devido a grande influência do câmbio, sendo que no passado chegou a reportar prejuízos.
  • crescimento + dividendos: QUAL3 – apresentou um DY de 11% ano passado, mas tem indicadores elevados, como P/L de 15 e P/VP 2,7, que não a enquadram em valor. Além disso a empresa dobrou a sua receita líquida nos últimos três anos.
  • crescimento + valor + dividendos: Forcei um pouco a barra para enquadrar CPLE3 aqui em crescimento, mas foi a única empresa que achei que estaria próxima destas 3 estratégias hoje. Ela possui bons indicadores, P/L de 4,0, P/VP de 0,40, e ROE de 11%, um DY de 5,2%, e a receita cresceu próximo de 50% nos últimos 3 anos, embora a lucratividade tenha crescido em um ritmo inferior.

Destas quatro estratégias acima, as combinações mais raras de ser ver no mercado são as de crescimento + dividendos, conforme expliquei no artigo anterior, e as que combinam crescimento + valor + dividendos, esta então é uma espécie em extinção, só aparecendo quando o mercado está em forte baixa, ou quando tem algum risco grande inerente ao negócio (ou ainda ambas).

Estratégia envolvendo dividendos + valor – Esta foi a principal estratégia escolhida nos meus investimentos, ocupando quase que 2/3 da minha carteira em ações (o restante esta na estratégia crescimento + valor). Isto porque a estratégia focada em valor tende a apresentar uma maior rentabilidade para o investidor no longo prazo, vide o estudo do Siegel no artigo anterior. Este fator aliado com os dividendos, diminuem bastante os riscos do investidor, e trazem bons ganhos no longo prazo. Vale lembrar sempre da equação Risco x Retorno e Prazo, e como o investidor tem que adequar o seu perfil a esta fórmula. Quem investe em micos esta correndo maiores riscos para ter uma pequena chance de obter maior retorno no curto prazo. Eu sigo a filosofia de correr baixos riscos, visando altos retornos no longo prazo.

Agora que você já sabe como identificar uma empresa de crescimento, de valor, e de dividendos, cabe-lhe analisá-las e identificar qual o seu foco de estratégia, ou se possui mais de um, visando minimizar seus riscos e aumentar as chances de rentabilidade.

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